Editorial - Monografias 2018.1

Elianne Ivo, Índia Mara Martins

Resumo


Revista Rascunho

v. 10, n. 18 (2018)

Rascunho #10 – Monografias 2018.1

 

Editorial Revista Rascunho edição 2018.1

 

A edição 2018.1 da Revista Rascunho tem o prazer de apresentar os primeiros TCCs nota 10 do curso de licenciatura em Cinema e Audiovisual em conjunto com as monografias do bacharelado em Cinema e Audiovisual. Nesta edição temos trabalhos com uma vigorosa tensão entre aspectos estéticos e políticos do audiovisual.

 

 

 

Ana Galizia, em seu TCC “Expondo-se com o outro – A exposição do antecampo no território compartilhado entre quem filma e quem é filmado” investiga a exposição do antecampo como estratégia na mediação entre quem filma e quem é filmado. Partindo do diálogo com a tradição do cinema documental, no qual a prática interativa coloca em relação o espaço do drama (campo e fora-de-campo) e o espaço atrás da câmera (antecampo). Por meio da análise de filmes brasileiros recentes, em especial Os dias com ele (Maria Clara Escobar, 2013) e Mais do que eu possa me reconhecer (Allan Ribeiro, 2015), reflete sobre como a exposição do antecampo coloca a centralidade do/a realizador/a em um lugar de instabilidade, tendo no encontro com o outro um espaço aberto em disputa, onde o que se filma são as relações e suas lacunas.

Luca Tunes em seu TCC “Tensão narrativa e composição visual: Uma aplicação da teoria de Rudolf Arnheim na criação de suspense em imagens em movimento”,  propõe aplicar os princípios da teoria de percepção e aprofundar os estudos sobre construção do suspense, tanto como ferramenta narrativa quanto como efeito psicológico, a partir de autores como Noel Carroll, Alfred Hitchcock, Moritz Lehne e Stefan Koelsch.

A relação entre o audiovisual e a cidade é questão central para Lucas Pereira Barros  em seu trabalho “Narrativas urbanas e a ressignificação do cotidiano: As experiências propostas por Rider Spoke e The Worst Tours”.  Em seu trabalho apresenta como o urbanismo surge enquanto prática e ganha protagonismo como forma de ação modificadora da estrutura das sociedades urbanas emergentes a partir do século XIX. Analisa as experiências das diferentes errâncias urbanas que, concomitantemente, desejam pensar este novo espaço urbano moderno, desde a flânerie, passando pelas vanguardas históricas do início do século XX até as experiências dos situacionistas nos anos sessenta e setenta. Apresenta as experiências de dois trabalhos contemporâneos distintos – um britânico e outro do Porto (Portugal) – como forma de ressignificar o espaço urbano através de ações onde os participantes são peças fundamentais, demonstrando a possibilidade de uma rua menos anônima e mais presente e interativa.

Em uma perspectiva próxima, que apresenta a cidade como espaço comunicacional, Rachel Andrade em seu TCC dedica-se a apresentar e analisar o projection mapping. Esta modalidade de arte e comunicação fruto do cruzamento entre outras linguagens artísticas, o que favorece seu caráter singular. A proposição chave do seu estudo é focada em aspectos como o trabalho multidisplinar, híbrido, e a busca por um estado de maior interação com o espectador. Em seu TCC faz uma breve contextualização do projection mapping na trajetória da arte e das evoluções tecnológicas pensando no seu processo criativo, técnico e analisando alguns trabalhos artísticos, com ênfase na cerimônia de encerramento das Olimpíadas Rio 2016.

Letícia Luzia Furtado, em seu TCC “Da Network ao Streaming: As reconfigurações da narrativa seriada em arrested development” propõe uma análise do uso da narrativa seriada enquanto estratégia de mercado para conquistar e fidelizar o público na televisão. A autora observar e problematiza as diferentes formas de construção da ficção seriada televisiva nos variados meios e modelos econômicos em que é veiculada. Também analisa o comportamento da indústria da televisão americana em meio as reconfigurações que constantemente vivencia no âmbito mercadológico e tecnológico, e as reações diante do acirramento da competição e da resposta do público ao qual se dirige.

Em outra chave, a ficção seriada também é objeto de estudo de João Marcos Resende em seu TCC “Caminhos da representatividade em Steven Universe” reflete sobre representação no meio audiovisual, seu histórico favorecimento de grupos sociais hegemônicos e as crescentes resistências de sujeitos do apagamento sociopolítico refletido nas mídias. Em sua pesquisa busca analisar formas em que as produções cinematográficas e televisivas operam a favor ou contra a diversidade de identidades. Percebendo a animação como linguagem potente em criações de mundos diversos, abstraídos de uma realidade opressora, um panorama histórico traz a observação acerca de tal potência, ora confirmando-se em marcos representativos, ora permanecendo limitado frente a contextos produtivos também silenciadores. A série televisiva contemporânea Steven Universe surge como uma das referências da linguagem da animação, incorporando em sua narrativa representações plurais, aqui analisadas em suas construções e diálogos que estabelece com pautas que reivindicam espaço para existir de formas dignas e valorizadas.

 

O interesse por um gênero audiovisual consagrado como masculino, o road movie, levou Gabriela Urban Pessoa a realizar o TCC “Mulheres pelas estradas latino-americanas: Uma análise dos road movies Qué Tan Lejos  e Sin Dejas Huella”. Em seu trabalho analisa a presença das mulheres em produções cinematográficas latino-americanas que sejam configuradas como filmes de estrada, gênero cinematográfico historicamente tido como masculino. Como principal objeto de análise, serão estudados os filmes Sin Dejar Huella, de María Novaro (México, 2000) e Qué Tan Lejos, de Tania Hermida (Equador, 2006).

 

Em seu trabalho de conclusão de curso “E se você fosse eu? Gênero e representação em Se eu Fosse Você”, Marcella Finis revela um recente crescimento da preocupação acerca de representatividade no audiovisual e em outras mídias. Em seu trabalho investiga a problemática da representação de gênero no cinema brasileiro da pós-retomada por meio do filme de Daniel Filho Se eu fosse você (2006), e avalia se ela mudou entre o primeiro e segundo filme da sequência, bem como procura entender como ambas se situam em relação às expectativas contemporâneas para representação.

A representatividade no contexto das políticas públicas é tema do TCC de Isabela Aquino, “Cinema negro e políticas públicas: O impacto dos editais curta afirmativo no cinema de realizadores negros no Brasil”. Em seu trabalho ela analisa a interseção entre cinema negro brasileiro e políticas públicas audiovisuais. Mais especificamente com foco nos dois editais Curta Afirmativo, de 2012 e 2014. Através de um questionário respondido por 30 ganhadores dos editais, a pesquisa destrincha os impactos dessas ações afirmativas no cinema negro e no audiovisual brasileiro em geral.

A representação num contexto mais amplo, que envolve raça, classe e gênero, é tema do TCC de Fernanda Cruz intitulado “Em casa de família: A representação das relações de trabalho doméstico remunerado no cinema brasileiro pós PEC 66/2012”. Em seu trabalho ela investiga a representação das relações trabalhistas do emprego doméstico nas produções cinematográficas brasileiras posteriores à implementação da Emenda Constitucional no 72, em 2013. A pesquisa traça um panorama histórico, apontando a correspondência entre raça, classe e gênero imbricadas nessa profissão. Com o intuito de compreender as modificações e permanências nas representações midiáticas, o estudo elenca os principais estereótipos construídos acerca dessas trabalhadoras. Por fim, são analisados os filmes Que horas ela volta? e Aquarius, contemporâneos a essas reformas trabalhistas e que trazem discussões relevantes sobre as relações entre patroas e empregadas domésticas.

Na perspectiva de cinema e educação, o tcc “Filmagem e primeira infância: O que podemos aprender com a prática audiovisual de crianças de 3 anos?” de Liana Baptista, traz uma abordagem inédita para a área. A partir do emergente campo de cinema-educação, que se concentra em ações com crianças e adolescentes do ensino fundamental e médio, a autora questiona se é possível o audiovisual como prática com crianças pequenas dentro da Educação Infantil. Em seu TCC relata seu encontro com crianças de 2 a 3 anos na Creche UFF experimentando a câmera filmadora em atividades lúdicas de filmagem e de exploração do ambiente e do próprio corpo. Resultaram destes encontros vários vídeos filmados pelas próprias crianças e inquietações sobre a inserção do audiovisual dentro da Educação Infantil e do resto da Educação Básica. Ao pesquisar e experienciar o audiovisual com crianças pequenas, provocam-se (des)aprendizados no nosso olhar adultocêntrico sobre o mundo e sobre o Outro. Ao assistir vídeos filmados por elas, surge a possibilidade de (re)ver o que estava esquecido ou invisível, de deslocar nossa visão e nossos corpos para um ‘se relacionar com’ mais presente, mais aberto, que se coloca em questão. Portanto, o encontro entre infância e audiovisual é importante como ferramenta de expressão para as crianças, e mais importante ainda como deslocamento do olhar para os educadores adultos. A inserção do audiovisual na Educação Infantil como um encontro com a alteridade, que seja lúdico e transformador, renova as possibilidades das práticas com audiovisual em qualquer espaço que se permita afetar e ser afetado.

Desejamos a todos boa leitura.

Elianne Ivo Barroso

India Mara Martins

Editoras

 

 


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